Acordei na manha seguinte, ouvi o Jordan a tirar o lençol.
-Está na hora de acordar Sunshine. – Vi que o Ian já ali não
esta com o computador, vi apenas um papel com o meu nome: “Joana obrigado pelo beijo e o abraço, Espero ter mais. Amo-te, Ian”. Dobrei
o papel.
-O que é isso? – Perguntou o Jordan.
-Nada. – Respondi logo, ele saiu e eu arrumei a nota debaixo
da almofada.
Eu adormeci com a roupa do dia anterior, mudei por outra e
sai para tomar o pequeno almoço.
Vi um monte de gente há volta da mesa, parecem muito
animados.
-O que se passa? – Perguntei ao aproximar-me, vi que há pai,
sandwiches feitas, café, leite com chocolate, cereais, bolachas e outras
coisas. De onde veio isto tudo de repente?
Vi o Kyle e o Ben a serem aplaudidos, fui ao pé deles e
perguntei:
-Vocês sabem de onde apareceu tudo isto?
-Sim, fomos nós e o Ian. Partimos ás seis da manha e
encontramos isso perto de um carro de oribianos. Não fizemos nada de especial.
– Disse o Kyle a sorrir, eu senti um arrepio.
-Não, o Ian magoo-se porque o oribiano tentou matá-lo mas
nós impedimos e acabamos por matar o oribiano. – Disse o Ben mais sério.
-O Ian magoo-se? – Perguntei assustada e afastei-me a correr
para a barraca dele, não esperei pela resposta dele e fui até ao Ian.
Entrei sem bater, ele viu-me, não me esperava e virou-se de
costas para mim.
-Credo que susto. Devias ter batido à porta. –Não liguei ao
que ele disse e fui até ele preocupada e assustada com o que posso ver a
qualquer momento.
-O Kyle e o Ben contaram a loucura que vocês foram fazer,
disseram que te magoaste. Deixa-me ver isso. – Ele tentou tapar o braço mas eu
não deixei, vislumbrei um corte no ante-braço esquerdo, não é muito grande e
profundo mas é o suficiente para dar uma dor de cabeça.
-Isto não é nada. – Disse ele, eu olhei para si.
-É sim. Ficaste louco? Não faças mais isso, assustaste-me. –
Ele sorriu e puxou-me para si.
-Assustei-te.
-Sim. – Ele tocou-me no rosto.
-Gosto de saber que significo algo para ti.
-Ian não comeces .
-Não estou a começar nada. – Eu fui buscar o quit de
socorros e tratei da sua ferida, no fim meti um penso.
-Estou como novo. – Disse mexendo o braço.
-Tem cuidado para não arrebentar com os pontos. Tens que
prender o braço ao peito para evitar movimentos bruscos. – Procurei algo e vi
que há uma echarpe cumprida da Linda, serviu e eu meti ao seu pescoço.
-Tem que ser cor de rosa? – Perguntou, eu olhei seriamente
para si.
-Não estás em posição de refilar. – Ele sorriu.
-Obrigado. – Voltamos juntos para fora e comemos cereais com
leite, algo que eu não comia há muito tempo atrás.
Mais tarde fui há procura de amoras com a Lyn.
-Tu e o Ian estão juntos? – Perguntou sem eu esperar,
levantei a cabeça mas não me virei para si. Porque raio ela fez esta pergunta?
-Porque perguntas isso?
-Porque vos vejo muito tempo juntos. – Não vou comentar a
sua afirmação que é verdade. Eu não sei o que dizer ou fazer. O Ian diz gostar
de mim mas eu não sei o que sinto. A minha vida já não é o que era, agora é
tudo tão diferente e eu ainda não estou psicologicamente bem, eu ainda
estou muito confusa com tudo o que tem acontecido.
Peguei no cesto com as amoras e voltei para a colónia.
Deixei o cesto na cozinha, a Sarah veio ter comigo e
tocou-me no ombro, ela está a sorrir.
-Vejo bastantes amoras. Tens bom olho. – Eu sorri.
-Eu entrei para a universidade na área da nutrição. – Ela
tornou a sorrir.
-Isso é bom. Ias tirar nutricionismo?
-Não mas era uma vertente. Na verdade eu entrei em várias,
uma delas era ciências e comunicação e nutricionismo. Fiquei pelas ciências e
comunicação. Fiz um ano e ia tirar a especialização de jornalismo. – Ao dizer
isto percebi que tenho saudades do que fazia e o meu sonho era o jornalismo e
até continuar a ser de certa forma.
-Que giro. Terias dado uma boa jornalista. – Eu sorri e
agradeci.
-Obrigada.
-Eu acredito na minha mãe. – Olhei e vi o Ian, sorrimos e
ele veio para o pé de mim, vimos Sarah a lavar as amoras, o Ian começou a tirar
uma e depois outra.
Quando ia tirar a terceira Sarah deu uma leve palmada na sua
mão.
-Deixa as amoras. São para fazer uma compota.
-Pronto está bem. – Disse e veio até a mim. Pegou na minha
mão e saímos dali.
Fomos para fora da colónia.
-Onde me levas? – Perguntei, eu prometi ao Jordan não me
afastar mais, mas como estou com o Ian deduzo que não há problema em
afastar-me, não estou sozinha.
-Já vais ver. – Disse.
Fomos dar a uma colina que tem uma vista linda sobre o
arvoredo de Texas e ao longe pode-se ver um pouco dos grandes arranha-céus que
fica na cidade.
-Descobri isto há três dias. É fantástico, sentei-me aqui a
olhar para tudo isto e a imaginar-nos de novo nas nossas casas. Era tão bom. –
Sentou-se e ficou a olhar para a cidade, não se vê carros nem radares ou os
policias com os seus apitos estridentes e musica pelas ruas.
Também me sentei perto dele e vi como ele guarda tanta
tristeza e magoa dentro de si.
Toquei na sua mão com cuidado, peguei e meti-a no meu colo,
ele deixou e eu encostei a cabeça no seu ombro.
Senti-o a ver-me pelo canto do olho e a sorrir.
-Eu acredito que um dia vamos voltar ás nossas vidas, eu não
perco a esperança e tu também não devias perder. – Os seus dedos acariciaram a palma da minha mão e os seus olhos estão
postos em mim.
-Tens razão mas ás vezes é
difícil. – Disse-me.
-Eu compreendo. – Levantei a
cabeça e olhei-o nos seus olhos. – Eu compreendo mas nós temos que ser fortes.
– Voltei a dizer.
-Eu consigo ser forte, por ti. –
Disse e aproximou o seu rosto do meu e encostou a testa na minha.
-Ian… - Comecei mas não terminei.
Acho que o Ian começa a mexer comigo.
Ele interrompeu-me e declarou-se
-Eu gosto tanto de ti. – Os seus
lábios vieram aos meus e ouve beijo.
É calmo e urgente ao mesmo tempo e
também víciante. A sua respiração é mais acelerada do que a minha.
-Ian… - Ia falar mas ouvimos um
barulho, ficamos assustados e levantamos-nos.
O meu coração disparou, saímos
dali com cuidado, vi o Ian a tirar uma navalha do bolso das calças.
-Quem está ai? – Tornamos a ouvir
o mesmo barulho. Eu sou capaz de ter um ataque de coração aqui, está disparado
e acelerado por causa do susto, o Ian meteu-me atrás de si.
Continuamos a ouvir um barulho mas
não vimos nada.
De repente do nada saiu o Ricki,
um miúdo de dez anos da nossa colónia, vive numa barraca com os pais.
O Ian arrumou a navalha, o Ricki
está a rir-se e é inofensivo, nós respiramos de alivio.
O Ian pegou no miúdo.
-O que fazes aqui? Isto não é para
miúdos.
-Mas vocês estão aqui. – Disse
Ricki na sua voz de criança.
-Pois mas nós já somos crescidos.
– O Ian tem mesmo jeito, acho que ele daria um bom pai.
Voltamos para o pé dos outros.
O resto do dia passou normal,
fiquei com o Ian na sua barraca a ver um filme num site online no seu
computador portátil.
Já era de noite quando saímos para
jantar.
-O que é que vocês estavam a
fazer? Não vos vi. – Disse a mãe do Ian, Sarah que está a meter os pratos na
mesa.
Eu e ele trocamos um olhar.
-Estávamos na minha barraca a
jogar ás cartas. – Disse o Ian, Sarah sorriu apenas e continuo o trabalho,
Linda também está a ajudar a mãe, Margret, Sheila e Nancy olham para mim com
uma cara demasiado séria. Não percebi bem porquê, elas nunca fizeram isto
antes. Não liguei mais e fomos todos para a mesa comer.
Mais tarde o grupo habitual
juntou-se ao pé da fogueira do costume.
O Jordan e o Ben falaram.
-Tivemos uma ideia hoje de manha e
quisemos partilhar com vocês. Estamos a pensar sair por uns dias há procura de
coisas para nos abastecer. Comida enlatada, peixe, carne, gelados e essas
coisas. Também roupas para todos, livros, alguns cobertores para o Inverno e
mais algumas coisas extras. Espalhem a palavra ao pessoal e façam uma lista de
coisas que precisam. – Todos acenaram, o Ben olhou para o Ian.
-Vens?
-Sim, contém comigo eu quero ir. –
Respondeu.
-Boa, precisamos de ti. – Disse o
Jordan. Estão eles a pensar ir sem mim? Não deixo o meu irmão sozinho, nunca,
foi uma promessa que fizemos e também o Ian significa muito para mim. Eu tenho
que ir se não eu não fico bem e descansada.
-Eu também vou. – Acrescentei.
O Ben e o Kyle começaram-se a rir.
-Era só o que mais faltava, levar
uma rapariga. – Disse o Kyle.
-Qual é o problema? – Perguntei.
-Nem penses. – Disse o Jordan
seriamente.
Levantou-se e começou a andar para
a nossa barraca, eu fui atrás de si.
-Jordan… - Comecei mas ele
interrompeu-me.
-Não, é a minha resposta. Não
insistas. – Entramos na barraca.
-Eu vou sim e vou insistir quer
queiras ou não. – Ele virou-se para mim com a mão direita no ar, é um vicio seu
que ás vezes irrita-me tanto e ele nem imagina o quanto.
-Joan… - Desta vez foi eu quem
interrompi a sua palavra.
-Não! Nós prometemos-nos que nunca
iramos-nos afastar. Se um vai para um lado o outro vai atrás. Portanto eu só
estou a cumprir.
-Isto é diferente, eu volto. –
Começou.
-Promessa é promessa. – Eu estou
empenhada em cumprir o que prometi.
-Eu sei mas aqui estás salva e
protegida, eu não quero que te aconteça nada. – Disse suspirando, ele olha-me
com uns olhos preocupados e eu não quero que ele fique. Logo que eu esteja
consigo eu estou bem e ele não tem que se preocupar. Estou debaixo da sua
vista, logo ele pode me controlar e não me acontecera nada.
-Mas não me vai acontecer. Se eu
estiver contigo eu estou bem. – Voltei a insistir. Quando quero consigo ser bem
teimosa.
-É melhor não. – Mas ele também
não fica atrás, a sua teimosia não fica longe da minha.
-Qual é o mal? No outro dia estive
quase a ser violada e estava perto daqui e quem é que me salvou como sempre?
Tu.
-Exactamente. Se estiveres aqui com
estas pessoas nada te vai acontecer. Se estiveres connosco é mais provável de
te magoares, eu vou estar ocupado. –
Torci o nariz com a sua teimosia.
-Mas eu sei cuidar de mim. –
Voltei a dizer. Que mais tenho de fazer para ele ceder? Implorar aos seus
joelhos?
Ele riu com o que eu disse e
olhou-me com desdenho.
-Vê-se. – Disse. O que quer ele
dizer? Não fui capaz e disse o que pensei.
-Eu sei cuidar de mim e vou-te
provar. – Disse e sai dali para fora furiosa.
A fogueira está quase apagada e as
pessoas quase todas já se foram embora para as suas barracas e quartos. Só o
Ben e o Ian continuam ali.
-Tu não podes vir connosco. –
Disse o Ben. Aproximei-me de si zangada e séria.
-Porquê?
-Porque tu só atrais sarilhos. –
Agora é que as “tampas” soltaram-me.
Quem é que ele pensa que é para me
dizer uma coisa dessas? Dizer que eu só atraio sarilhos? Que grande parvo ele
é, fiquei ainda mais zangada.
-Estúpido! Mas eu vou à mesma. –
Sai dali a passos largos, ouvi o Ian a vir atrás de mim.
-Joan espera. – Agarrou no meu
braço.
-Larga-me. – Não serviu de nada,
ele virou-me para si.
-Primeiro tem calma e depois
falamos. – Disse-me, eu respirei fundo e olhei para ele.
-Ele disse que eu só atraio
sarilhos. – O Ian pegou no meu rosto e não sei porquê mas fiquei mais calma com
o seu toque.
-Não atrais nada e se queres tanto
ir quem sou eu para dizer não? – Eu sorri e abracei-me a ele.
-Vais precisar de mim. – Disse-lhe
sorrindo contra si. Senti os seus lábios na minha cabeça.
-Eu sei que sim. – Por momentos
ficamos assim juntos e depois voltamos para as cabanas.
Programei o despertador para
acordar mais cedo e deitei-me a dormir
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